As Cabeças das Pessoas Negras

Quando eu era não mais que uma pequena criança, estudava em uma pequena escola particular no bairro onde morava, em Porto Alegre, uma das cidades mais segregadas do país. Em um universo de dezenas de crianças, eu, minha irmã e um menino que vamos aqui chamar de Paulo (eu lembro exatamente o nome dele, mesmo que esse episódio tenha ocorrido há mais de 25 anos, mas talvez Paulo seja hoje um homem negro que não queira ser retratado nas minhas reminiscências infantis, portanto, vamos adotar um nome fictício para o “outro negro” da minha escola de educação infantil) éramos as três crianças negras que habitavam aquele ambiente. Apesar disso, Paulo não foi meu primeiro amor de infância, tampouco era meu melhor amigo. Meus melhores amigos da escola eram crianças brancas que debochavam do barulho que minhas tranças cheias de miçangas faziam, minhas melhores amigas da escola eram crianças brancas que perguntavam por que Deus tinha me feito tão preta, meus melhores amigos da escola eram meus piores inimigos.