
A Melodia da água
- Rebecca Ross
- 421 Páginas
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Sinopse
O mais seguro era atravessar o oceano à noite, quando a lua e as estrelas reluziam na água. Pelo menos, era assim que Jack tinha aprendido. Ele não sabia mais se tais convicções antigas ainda se sustentavam.
Era meia-noite, e ele tinha acabado de chegar a Woe, uma vila de pescadores na costa norte do continente. Jack julgou o nome, uma palavra inglesa para “sofrimento”, um tanto adequado tão logo precisou tapar o nariz, uma vez que o lugar todo fedia a arenque. Os portões de ferro estavam cheios de ferrugem, e as casas de palafita eram tortas, com todas as janelas aferrolhadas para barrar o uivo incessante do vento. Até a taberna estava fechada, com a lareira apagada e os barris de cerveja cobertos havia tempo. Os únicos movimentos vinham dos gatos de rua tomando o leite deixado para eles às portas e da dança das cocas e canoas balançando no cais.
Era um lugar sombrio e silencioso como os sonhos.
Dez anos antes, ele tinha feito sua primeira e única travessia no oceano. Da ilha ao continente, um trajeto que levava duas horas, caso os ventos estivessem favoráveis. Tinha chegado àquela mesma vila, conduzido por um velho marinheiro ao longo da água estrelada. O homem era abatido e emaciado em função dos anos de vento e sol, inabalável pela ideia de chegar à ilha em sua canoa.
Jack se lembrava bem da primeira vez que pisara em solo continental. Tinha onze anos à época, e sua impressão inicial foi de que o cheiro ali era bem diferente, mesmo na calada da noite. Cheiro de corda molhada, peixe e lenha. Cheiro de livro podre. Até a terra sob suas botas lhe parecera estranha, ficando mais dura e ressequida conforme avançava em direção ao sul.
— Cadê as vozes no vento? — perguntara ao marinheiro.
— Aqui os feéricos não falam, garoto — respondera o homem, balançando a cabeça quando achou que Jack não estivesse vendo.
Foi preciso mais algumas semanas para Jack descobrir os rumores que descreviam as crianças nascidas e criadas na Ilha de Cadence como estranhas e indomadas. Poucas tinham a oportunidade de ir ao continente, como Jack. E menos ainda permaneciam lá pelo mesmo tempo que ele permanecera.
Mesmo dez anos depois, Jack ainda achava impossível esquecer sua primeira refeição no continente, seu gosto insosso e seco. A primeira vez na universidade, maravilhado pela vastidão e pela música que ecoava nos corredores sinuosos. O momento em que percebera que nunca voltaria para a ilha