
Mil Placebos
- Matheus Borges
- 173 Páginas
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Sinopse
Costumo ter pesadelos horríveis. São complexos espetáculos de horror onde sou queimado vivo, afogado ou submetido a excruciantes torturas. Numa dessas ocasiões, continuava deitado em minha cama, o olhar fixo no ventilador de teto que girava devagar. Tomei impulso para me levantar e percebi que uma tira comprida de arame farpado fora enrolada ao meu pescoço. Imobilizado pelo espanto, respirei fundo e acreditei ser capaz de removê-la. Tentei dirigir as mãos na direção do arame e senti uma dor intensa que começava nos dedos e, espalhando-se por todo o meu corpo, ativava terminações nervosas, uma depois da outra, como um sucessivo espicaçar de agulhas. Logo percebi, com o canto dos olhos, que as extremidades do arame foram amarradas a perfurações em minhas mãos, duas chagas circulares de onde vazava sangue marrom. De modo que, quanto mais força eu aplicava para tentar me libertar, mais eu me enforcava. Quanto mais resistia ao enforcamento, mais se entranhavam as farpas do arame no tecido exposto das minhas mãos.
Do outro lado do quarto, uma figura humana envolvida em sombras me observava enquanto eu me debatia. Ao mesmo tempo em que ignorava minhas investidas para continuar vivo, nada fazia para agravar minha tortura. Impassível, permanecia vigilante na escuridão, obtendo algum tipo de entretenimento das sucessivas tentativas de me libertar da armadilha. Não havia som algum além de minha respiração ofegante e meus batimentos cardíacos, acelerados e distantes, o impacto amortecido pela caixa torácica, fazendo vibrar os músculos na frequência grave de um contrabaixo em arritmia, vibrações que se perdiam nas paredes do túnel de carne. Subitamente, uma onda de vento gelado atravessou o quarto e aterrissou no colchão, depositando-se ao meu lado como um amigo íntimo em visita a um quarto de hospital. Carregada pelo vento, uma voz desencarnada sussurrou ao meu ouvido:
“O melhor a fazer é ficar parado”.




