
A Rainha Estrangulada
- Maurice Druon
- 203 Páginas
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Sinopse
No dia 29 de novembro de 1314, duas horas após as vésperas, vinte e quatro cavaleiros trajados de preto, com as armas da França, passaram a galope pela porta do Castelo de Fontainebleau e mergulharam na floresta. As estradas estavam juncadas de neve, o céu, mais escuro que a terra; já era noite; melhor dizendo, por causa de um eclipse solar, a noite anterior continuava.
Os vinte e quatro cavaleiros não repousariam antes do amanhecer, e galopariam ainda durante todo o dia seguinte e por outros mais, para Flandres, para Angoumois e a Guyenne, para Dôle en Comté, para Rennes e Nantes, para Toulouse, para Lyon, Aigues-Mortes, acordando bailios, prebostes e senescais, para anunciar, em cada cidade ou povoação do reino, que o rei Filipe IV, o Belo, acabava de morrer.
À sua passagem, os sinos punham-se a dobrar nas trevas; uma grande onda sonora, sinistra, alargava-se sem cessar, estendendo-se até atingir todas as fronteiras.
Após vinte e nove anos de um governo sem fraqueza, o Rei de Ferro morria, com quarenta e seis anos, de uma congestão cerebral, enquanto um eclipse solar lançava uma sombra espessa sobre a França.
Verificava-se, assim, pela terceira vez, a maldição lançada no meio das chamas, oito meses antes1, pelo grão-mestre dos templários.
1 Ver O Rei de Ferro, primeiro volume da série Oi reis malditos. (N. do E.)
Soberano tenaz, altivo, inteligente e discreto, o rei Filipe preenchera tão bem seu reinado e dominara de tal forma seu tempo que se tinha a impressão, aquela noite, de que o coração do reino parará de bater.
As nações, porém, jamais desaparecem com a morte dos homens, por maiores que estes sejam; seu aparecimento e seu fim obedecem a outras causas.
O nome de Filipe, o Belo, só seria iluminado, na noite dos séculos, pelo clarão das fogueiras que ele havia acendido sob seus inimigos e pela cintilação das moedas de ouro que mandara cunhar. Esqueceriam logo que ele amordaçara os poderosos, mantivera a paz o quanto possível, reformara a legislação, construíra fortalezas para que se pudesse semear ao abrigo do perigo, unificara as províncias, exortara os burgueses a se reunirem para lhe dar conselhos e velara, em todas as coisas, pela independência da França.
Assim que suas mãos gelaram, assim que aquela grande vontade se extinguiu, os interesses privados, as ambições frustradas e as sedes de honrarias e de dinheiro se desencadearam.
Dois partidos iriam defrontar-se e destroçar-se sem piedade pela posse do poder: de um lado, o clã da reação baronial, conduzido pelo conde de Valois, imperador titular de Constantinopla e irmão de Filipe, o Belo; de outro, o clã da alta administração, dirigido por Enguerrand de Marigny, primeiro-ministro assistente do falecido monarca.
Para evitar esse conflito, que fermentava há meses, ou para arbitrá-lo, seria preciso um rei de pulso. Ora, o príncipe de vinte e cinco anos que subia ao trono, monseigneur Luís, já rei de Navarra, parecia mal dotado para reinar; chegava ao poder precedido pela reputação de marido enganado e pelo triste cognome de Turbulento.
Sua esposa, Margarida de Borgonha, a mais velha das princesas da Torre de Nesle, encontrava-se aprisionada por adultério, e sua existência iria, curiosamente, servir de prêmio para as duas facções rivais.
As conseqüências da luta, entretanto, como sempre, recairiam sobre a miséria dos que, nada possuindo, não podiam nem mesmo sonhar... O inverno de 1314-1315 foi, além disso, um inverno de fome.
