Ressaca

“Encontraram ele morto, esfaqueado no coração, cara”, diz Saunders, apertando as chaves na mão, franzindo as sobrancelhas. “Quem está bêbado, Saunders? Chega dessa conversa. Está me deixando aflito. Tem comida?” O viado pega a garrafa vazia onde eu a larguei sobre o cobertor. Tenho a sensação de estar sonhando. “Cadê suas sardas, Puck? Vamos trocar de lugar.” Eles não estão mais falando comigo. “Comida, cara. Merda.” Estou totalmente acordado agora. Numa olhada só abarco o local: armários, paredes de madeira pintadas de cinza, ganchos de metal, algumas roupas de marinheiro penduradas, um espelho cinza em formato de escudo. A luz do sol entra como uma névoa, em bloco, salpicada de pó branco. As sombras dos homens no convés se movem nas paredes pelas pequenas janelas retangulares situadas bem alto acima da minha cama. Uma cama vazia de cada lado. Rangidos e estalos de navio e de mar. Estou louco por cerveja e por uma canção. Isto aqui é o meu lar: eu bem no centro da embarcação à deriva, querendo, a caminho de algum lugar.