
O Sétimo Juramento
- Paulina Chiziane
- 236 Páginas
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Sinopse
A ilusão de um amanhã melhor há muito murchou, por isso o msaho morreu em Zavala. Por todo o lado impera a força das armas e a pirataria das armas. Evaporou-se a água que refresca os destinos da humanidade, tudo é fogo.
Mulher e homem, forte e fraco, fogo e água, desfilam em círculo como as estações do ano. Morre um e vem outro, nunca caminhando juntos para a harmonia da natureza. As palavras fome, guerra, greve, fuga, massacre, roubo, desgraça, fazem hoje o discurso da maioria. Os passos dos homens já não são desfiles serenos, mas marchas de protesto. As palavras poder, revolução, soam como maldição, nos ouvidos ensurdecidos pela violência das explosões em nome da democracia.
O derramamento de sangue é premeditado, planeado, com uma intenção benéfica e um projeto de nobreza. Vidas são cabelos, dizem os guerreiros. Cortam-se poucos e nascem muitos, mais fortes e mais saudáveis. Há cada dia menos escolas, menos emprego, menos chuva, mais fogo, mais sol, mais armas. Há mais mortos do que vivos, mas ainda não é chegado o fim do mundo, a vida triunfará, para a glória do vencedor. O campeão desta guerra construirá o majestoso palácio imperial com ossadas humanas que andam às toneladas nas matas.
Chove. Em todos os abrigos os seres vivos repousam e se renovam. Lá fora, o frio corta e gela como uma lâmina aguçada. É inverno, é junho. No bairro alto a energia elétrica é consumida a todo o vapor e aquece as casas dos ricos. Os pobres, esses confortam-se nos braços das amantes. Não ter manta nem amante para se aquecer é ser o mais miserável dos pobres no mês de junho.
O céu clareia timidamente e as pessoas ensaiam o despertar. O tempo convida para o calor da cama, mas o conforto é privilégio dos ricos. Os operários despertam. Mesmo sem lavar o rosto e os dentes, abandonam a casa e engrossam a marcha da multidão na estrada grande, porque as sirenes das fábricas tocarão dentro de pouco tempo.
No meio da multidão os operários não olham para o céu nem para o lado, muito menos para os rostos dos que caminham na mesma direção. Olham para o chão, para o asfalto negro, tão negro como os seus destinos, seus sonhos e suas vidas. Olham para trás, para buscar consolo nos bons momentos do antigamente.