
O Homem que Compreendeu a Democracia
- Olivier Zunz
- 522 Páginas
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Sinopse
“Causa espanto o fato de que os títulos seriam abolidos na França? Não é um espanto ainda maior o fato de que eles seriam mantidos em todos os lugares? O que são eles? [...] Quando pensamos ou falamos de um juiz ou de um general, nós os associamos a ideias de ofício e caráter; pensamos na seriedade de um, e na bravura do outro”; porém, em relação a “um duque ou um conde”, não se pode afirmar se tais palavras “significam força ou fraqueza, sabedoria ou desvario, uma criança ou um homem, o cavaleiro ou o cavalo”.
Assim escreveu Thomas Paine em 1791, durante a Revolução Francesa.1 Alexis de Tocqueville, nascido em 1805, descendente das mais elevadas camadas da nobreza francesa, concordou com ele. Tornou-se o único membro de sua família a escolher a democracia no lugar da aristocracia. Sempre se recusou a usar seu título de conde e ficava aborrecido quando as pessoas assim se dirigiam a ele. Embora reconhecendo que tinha “instintos” aristocráticos, ele era um democrata “devido à razão” e muito se empenhou para fazer avançar a grande mudança moderna que ia da aristocracia para a democracia.2 Na aristocracia, notou Tocqueville, “as famílias mantêm a mesma posição social durante séculos e frequentemente nos mesmos locais […] ligando todos os cidadãos num longo encadeamento que vai do camponês ao rei”. Tocqueville, em vez disso, optou pela democracia, que rompe o encadeamento, corta as ligações e convida cada cidadão a realizar seu potencial mediante seus esforços.3
A dimensão de qualquer forma de governo, acreditava Tocqueville, era a liberdade e a igualdade. Em uma aristocracia, somente aristocratas privilegiados podiam gozar da liberdade — às custas da liberdade dos outros. Na democracia de Tocqueville, em contraste, todos os cidadãos têm a liberdade de agir em uma estrutura legal, que seja do acordo de todos. Tocqueville encarava a igualdade como o instrumento da liberdade e, embora reconhecendo a necessidade de reparar a injustiça social, via a igualdade não como um meio de nivelar, mas de elevar. Acreditava que a busca da liberdade e a busca da igualdade estavam intimamente ligadas, chegando até mesmo a imaginar “um ponto extremo, no qual a liberdade e a igualdade se tocam e se tornam unas”.4